Vida: um livro aberto? Vida adulta, ressaca literária e outros…

Vida: um livro aberto? Vida adulta, ressaca literária e outros…

Esse ano eu coloquei como meta ler um pouco mais do que eu vinha lendo nos últimos dois anos pelo menos (acho que a gente coloca isso todo ano, né? Como diriam os Engenheiros do Hawaii, “entra ano, sai ano, sempre os mesmos planos”).

Parei de tentar encontrar um livro que me tirasse o sono ou que me fizesse grifar todas as páginas como uma apostila – eu só queria voltar a manter uma rotina de leitura leve, nem que fossem 15 minutos por dia. Afinal, a vida adulta é mesmo isso, não é? Um eterno vai e volta de coisas que a gente sempre gostou de fazer e que acabam ficando lá no fundo da gaveta por falta de tempo, disposição ou por preguiça mesmo – o dia a dia engole tudo e ficamos, muitas vezes, fadados aquele tempinho de “sobra” e sem fazer nada de nada.

Confesso que, muito desse tempo da famosa “ressaca literária” foi porque eu deixei me levar por uma onda de gurus da internet e livros da moda. Nada contra eles, mas… eles não funcionaram pra mim. Nem pra fazer volume de livros lidos. E eu comecei a perceber que o momento de leitura não era algo prazeroso, que poderia inundar minha mente com histórias, relatos ou qualquer cosia do tipo que envolve, estimula a criatividade, imaginação ao algo assim..

Na verdade, esses livros mais pareciam como palestras, workshops, cursos… será que era isso mesmo que eu estava buscando para meus momentos de leitura? Além disso, parecia que eu estava lendo-os apenas para ter aquela foto no story de manhã (já sentiram isso também?).

De toda forma, fiquei pelo menos um ano nesse ritmo. Eu li o famoso Comece pelo Por quê, Essencialismo, Mindiset: a nova psicologia do sucesso. Confesso que tentei ler o famoso “Como fazer amigos e influenciar pessoas” mas, gente!! Sinceramente? As dicas iam de [….]

Não dava. De verdade.
Tudo isso se misturou com um certo asco pelo que a área de marketing vem se tornando, gurus, palestras e a tal venda da vida perfeita que não existe. Desisti.

Comecei o ano com Sapiens e foi muito bom. Levei quase 3 meses para terminar ele – sim, eu tava voltando ao “ritmo” e obviamente escolhi um livro bem “tranquilo” rs. Mas foi um divisor de águas legal. Eu amo história, amo ciência social e até biologia, que é um pouco de tudo que tem dentro desse livro e que é realmente uma bíblia. E, sim, é daqueles livros pra ler e reler, voltar em algumas partes específicas. Explica muita coisa, inclusive o quanto, apesar de termos evoluído, ainda temos muitas coisas parecidas com nossos ancestrais.

Depois disso, eu passei pra outro livro: O Símbolo Perdido, do Dan Brown. Alguns podem dizer “que brega, Camila!”, outros nem tanto hehe. O fato é que eu devorei esse livro em alguns poucos dias rs. Comecei a ler no avião (indo pra digníssima Itália) e terminei (pasmem) ao longo da viagem mesmo.

Não tem muito como me justificar, apenas reiterar que toda a narrativa é realmente muito cativante e estimulante, estamos sempre querendo saber os “próximos capítulos”. A considerar: eu já li o Código Da Vinci e comecei Símbolo Perdido morrendo de vontade, na verdade, de ler Anjos e Demônios, justamente por estarmos em direção às terras italianas. Então, podem esperar que esse pode ser um próximo livro a qualquer momento, rs.

Enfim de volta, retirei da prateleira um livro que já tinha pelo menos uns 4 anos que comprei – O Conto da Aia, da Margareth Atwood. Esse livro tava nas minhas mais antigas wishlists e eu nunca tinha realmente a coragem de abrir e ler – acho que, de alguma forma, eu já sabia como seria. Mas, enfim, resolvi dar um pouco mais de impacto pra essa minha nova rotina.

E que impacto, meus amigos.

Não foi uma leitura fluida, rápida, simples. Não estou falando necessariamente sobre o texto da escritora em si, mas de todo contexto e peso que ela carrega. É como se, a cada página, estivesse trancada em uma solitária, sem saber se entraria luz ou um pouco de comida, ou ouviria gritos desesperados, ou abririam a porta… enfim, tudo tão confuso e muito bem certo ao mesmo tempo.

A narrativa, em si, não tem um início e nem um fim. Para mim, foi angústia pura. E explico-me: tudo que envolve supremacias me incomoda de um jeito diferente. Supremacia masculina, então, piorou.

O Conto da Aia é um enredo tão instigante e angustiante que, apesar de categorizar um romance distópico, ele é tão recente, tão real e tão próximo. As surpresas são tão fortes não apenas pelo caminhar da história e nem pelo caráter absurdo, é pela relação que, muitas vezes, todas elas são com a atualidade. É terrível e esclarecedor, na mesma proporção.

Não à toa, levei quase dois meses para terminar ele.

Em muitos dias, eu simplesmente não tinha forças para encarar a próxima página. Eu passava por ele, na sala, encarando-o mentalmente e, ainda, digerindo tudo que já havia lido. O que mais veria? O que mais identificaria tão atual e tão sombrio?

Em resumo, sobre a história:


O Conto da Aia é um romance distópico e se passa na região considerada “Nova Inglaterra” nos Estados Unidos e que passa a ser “comandada” por uma teonomia totalitária fundamentalista cristã que derruba o antigo governo.

DETALHE: não dá pra saber exatamente como isso aconteceu pelo livro e nem exatamente todas as esferas de poder e atuação desse “governo”. A história é narrada em primeira pessoa por uma mulher, Offred, que é parte de uma CLASSE DE MULHERES mantidas apenas para fins reprodutivos, as aias. O relato dela, apesar de ser em parte cronológico – começa com ela em sua terceira tarefa como aia – tem muitas “idas e vindas”. Ou seja: muitas vezes, ela começa contando sobre o dia atual e viaja no tempo, seja antes da revolução ou no período em que ela e outras mulheres (aias) ficaram confinadas em um “treinamento”.

É um livro intenso. A leitura não é em si difícil, mas o enredo, o contexto, nem sempre é fácil de assimilar. (Não sei exatamente quais foram todos os pontos, mas esse livro me lembrou muito 1984 do Orwell).

Afinal, os livros imitam a vida ou a vida é um livro aberto, uma história contada por diferentes pessoas?

Em tempo: não assisti a série e talvez não consiga rs.

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