Eu estava relutando e pensando muito sobre fazer um texto nesse dia: o tal do aniversário de 30 anos. Ficava só imaginando que os outros devem pensar “Iiih, olha lá a emocionada. Mais uma completando 30 anos. Quem ela acha que é? Alguém especial que faz 30 anos de algum jeito diferente?”
Mas, enfim, aqui estou eu porque, afinal, eu sofro daquele caso de que só de pensar se devo escrever, já é quase uma escrita. Então, não fazê-lo seria como uma traição a mim mesma, se é que me entendem.
O fato é que, então, os 30 anos chegaram.
É engraçado porque parece que existe uma lacuna, um campo magnético para esse “feito” – desde os nossos 28, 29 anos. Parece que, nesse(s) um (ou dois) ano(s) anterior(es), você já é uma pessoa com PRATICAMENTE 30. É aquela coisa: todo mundo pergunta sua idade, “29 anos”, “hm, pertinho dos 30, hein?”, “os 30 já estão aí na porta, né?”. Acho que tudo isso ajuda nesse contexto tão emblemático.
Mas, afinal, por que fazer 30 anos é tão impactante assim?
Talvez seja porque a gente realmente entra na vida adulta (?).
Talvez seja porque nosso organismo muda e as doenças que podemos ter também são diferentes (?).
Eu realmente não sei dizer ao certo – e acho que essa é a graça da vida, né? Mas posso dizer que, realmente, algumas coisas mudam (seja por conta própria ou influenciadas pelo movimento que o momento influencia – afinal, cada pessoa influencia a sociedade ou a sociedade que influencia como cada pessoa é? Enfim, filosofia rs).
Agora que os 30 anos chegaram, a sensação é diferente do que imaginei anos atrás. A idade trouxe uma nova leveza que, ao contrário do que pensava, não veio com todas as respostas, mas sim com uma aceitação de que algumas perguntas talvez nunca precisem de respostas exatas. É um equilíbrio entre buscar crescer e simplesmente se permitir existir, entendendo que viver é mesmo um processo contínuo, cheio de curvas e mudanças.
Por exemplo:
Eu sempre fui a pessoa que queria controlar tudo e tentar prever o futuro, me preparar pra qualquer situação (boa ou ruim), criar as mais diversas expectativas dentro de um milhão de contextos que eu não saberia se seriam exatamente daquele jeito. Agora sou muito menos assim. Prefiro dormir pensando, no máximo, o que eu preciso fazer no dia seguinte. É quase como uma chave que vira mesmo.
Eu também venho tentando, cada vez mais, ser honesta comigo e com o que eu sinto, com o que eu penso, com o que eu falo e faço. Antes, parecia que eu procurava uma fórmula pra ser mais autêntica. Agora, sinto que ela, na verdade, não existe em outros lugares, apenas dentro de mim. Ser honesta comigo e, consequentemente, em minhas ações é a equação principal.
Sou privilegiada porque sempre tive muitas oportunidades e tenho uma vida muito bem estabelecida, eu diria. E enxergar isso não é um dos elementos dos 30, por sorte. Sempre tive consciência disso. Mas agora, com um tiquinho mais do que acho que chamam de sabedoria, eu sei agradecer e aproveitar com mais leveza tudo isso.
“Será que eu estarei sozinha aos 30 anos?”- essa também já foi uma dúvida, há muuuito tempo atrás. E não digo sozinha de um relacionamento amoroso apenas, mas de não ter conseguido criar conexão com outras pessoas, estabelecer vínculos, compartilhar afeto. Mas, entendi que isso não é exatamente mais uma daquelas coisas que a gente consegue prevê. O dia a dia se encarrega se estabelecer laços, mas é claro que tudo depende de como a gente se abre para eles. Eu perdi um pouco o medo de ser eu, de pensar se as pessoas vão me achar uma chata e falar mal de mim quando eu não estou e simplesmente me entreguei ao acaso de conhecer pessoas sem esperar nada em troca – e é assim que a gente descobre TANTA troca.
Hoje, completando 30 anos, tenho aquela consciência clichê de alguém que já viveu muitas coisas (boas, ruins, divertidas, tristes, inesquecíveis ou que eu não quero lembrar), mas também ainda com o coração, a mente e o corpo doidos por muito mais (e ainda mais conscientes). Hoje, ao completar 30 anos, vejo que essa nova fase é mais sobre um desejo genuíno de estar aberta ao que está por vir do que sobre “fechar ciclos” ou “cumprir metas”. O clichê de “estar com o coração, a mente e o corpo prontos para o que vem pela frente” nunca pareceu tão real e, de certa forma, libertador.
E, não, não vou ter vergonha de falar “as músicas da minha época”, “na minha época, na escola” ou qualquer coisa do tipo. Esse é o ciclo da vida e, ainda bem, eu vivo ele muito, muito, muito bem.