
É, eu queria dizer para vocês que muita coisa mudou, que eu senti uma nova energia e que agora claramente estou em outra fase. Que deixei de gostar de Harry Potter e passei a assistir documentários sobre economia, que parei de me vestir sempre pensando em um contexto e passei a me vestir de forma adulta e fria, que simplesmente parei de pensar e me importar com as opiniões dos outros e finalmente consegui seguir minha vida tranquilamente.
Mas nada disso aconteceu.
Pelo menos ainda não. E talvez eu nem queira que aconteça.
Não vou mentir que essa idade é um grande paradoxo. A gente se vê nostálgica, fazendo tudo que um dia achou muito brega e cafona – por exemplo acreditar fielmente que as músicas “da nossa época” eram muito melhores, que a gente soube viver muito bem a infância… enfim, essas coisas que a gente achava insuportável de ouvir dos adultos que, pasmem, agora somos nós.
Mas, ao mesmo tempo, a gente ainda quer ser – e é – descolada. A gente ainda consegue dialogar com os adolescentes e jovens adultos tranquilamente (tá bom, pode ser que eu tenha forçado um pouco no “tranquilamente”).
Eu não vou entrar no mérito daquelas reflexões de sentir que já vivemos muito, mas que ainda temos muito a viver porque, de verdade, eu espero que isso seja assim a cada aniversário que eu passar (seja de 35, 40, 60 ou até 90 anos rs).
Mas não, eu não senti nenhum pó mágico cair sobre mim.
Também não fiquei sabendo de nenhuma quantia enorme de dinheiro que agora é minha. Ou então de um emprego incrível em alguma agência incrível me chamando para uma vaga incrível e que, ainda, eu estou convocada a cobrir um evento importante em Paris no próximo mês.
Não.
Nada disso aconteceu.
Talvez a virada dos 30 seja exatamente isso – a gente agora sabe, de certa forma, que nada é um conto de fadas MESMO. Não é que não tenha mais tempo para realizar tudo isso aí que falei (tirando a parte do dinheiro porque né, convenhamos). Mas é que agora nós sabemos justamente que a cada momento a gente quer viver muito bem e isso significa aproveitá-lo com inteligência. Saborear cada partezinha. Não deixar mais oportunidades passarem por euforia, por uma certa pitada de rebeldia – mas, ao mesmo tempo, saber muito bem como aproveitar esses sentimentos quando for preciso.
Eu sei que assistir meus filmes preferidos não vai me transformar em suas personagens principais. Sei que desenhar meu mapa dos sonhos – apesar de muito importante – não vai transformar minha vida em uma semana, especialmente se eu não criar um roteiro, traçar metas REAIS e perder a vergonha de vez de me colocar como prioridade sem pensar nos outros.
Talvez a graça de fazer 30 anos seja justamente essa compreensão de que a vida real é feita de momentos pequenos e de conquistas silenciosas. De perceber que amadurecer não é sobre ter todas as respostas ou sobre viver sempre nos moldes do que esperávamos no passado, mas sobre aceitar que o nosso caminho pode (e vai) mudar.
É entender que a felicidade e o sucesso se parecem mais com tranquilidade e consistência do que com cenas de um filme perfeito.
E, honestamente, esse “pé no chão” que vem aos 30 pode ser libertador. Começamos a nos dar conta de que a vida não precisa ser um show constante de grandes eventos e reviravoltas para ser valiosa. A gente aprende a valorizar aquilo que está diante de nós, a abraçar quem somos hoje e a crescer, não para impressionar o mundo, mas para impressionar a nós mesmos. Essa paz, talvez, seja a melhor recompensa de amadurecer.
Então, nesse primeiro dia depois dos 30, sigo ainda a mesma – talvez só um pouco mais consciente. E, se for para mudar algo daqui para frente, que seja a minha disposição de viver cada instante com inteireza e presença, porque, no final das contas, a vida não é sobre quanto conseguimos ou quanto temos, mas sobre o quanto somos capazes de nos entregar e aproveitar cada momento.